RAFTING – BROTAS
APRESENTAÇÃO DA MODALIDADE
A palavra "rafting" vem do inglês raft, que significa balsa ou jangada. A modalidade é considerada um esporte radical que se baseia na prática de descida em corredeiras em equipe, utilizando botes infláveis, remos e equipamentos de segurança. A história moderna do rafting teve início em 1842, quando John Fremont, militar do exército americano, fez suas primeiras expedições utilizando um barco desenhado por Horace H. Day. Consta que essas experiências se deram no rio Colorado (EUA), que atravessa o Grand Canyon. O barco possuía quatro compartimentos separados e foi batizado de Air Army Boats.
A evolução dos barcos e das técnicas veio justamente da necessidade de superar os obstáculos do rio, não apenas as corredeiras, mas também pedras, galhos e árvores. Notícias dão conta que o rafting começou a ser utilizado em grande escala depois da Segunda Guerra Mundial (1939/1945), especialmente por aventureiros norte-americanos. No Brasil, a primeira empresa de rafting de que se tem notícia foi fundada em 1982, no Rio de Janeiro. De lá para cá, o esporte só fez crescer por aqui e praticamente todos os estados brasileiros oferecem a possibilidade da descida em seus rios, cada qual com particularidades próprias.
Entre as principais características do rafting, podemos destacar: o trabalho em equipe e os itens e procedimentos de segurança. Geralmente vão de cinco a oito pessoas no bote, sendo que o condutor fica na parte de trás da embarcação e é dele que partem os comandos para os demais membros da equipe. Sendo assim, o sentido coletivo tem que predominar, com todos empenhados em obedecer e colaborar.
Basicamente são quatro os comandos durante uma descida: “frente”, quando a equipe impulsiona o barco no sentido da corredeira; “ré”, quando existe a necessidade de mover o bote no sentido contrário ao da corredeira; “segurar”, quando os tripulantes fazem dois movimentos simultâneos, o de segurar nas cordas que circundam o bote, além de inclinarem os corpos para dentro do barco; e por fim, “chão”, onde os tripulantes saem da borda do bote e se locomovem para dentro da embarcação. Esse comando é utilizado quando corredeiras com quedas mais acentuadas se aproximam. Pode haver variações de comando, dependendo da empresa contratada e ainda da região do país. São seis os níveis de corredeiras estabelecidos:
Nível I: Áreas com pedras muito pequenas; requer poucas manobras.
Nível II: Algumas águas agitadas, talvez algumas rochas; pode exigir manobras.
Nível III: Ondas pequenas, talvez uma pequena queda, mas sem perigo. Pode requerer habilidade de manobra significativa.
Nível IV: Ondas médias, presença de poucas pedras, com quedas consideráveis; manobras mais difíceis podem ser necessárias.
Nível V: Grandes ondas, possibilidade de grandes rochas, possibilidade de grandes quedas, há riscos e exige manobras precisas.
Nível VI: Corredeiras extremamente perigosas, pedras e ondas enormes. O impacto da água pode até causar estragos no equipamento.
DIÁRIO DE BORDO
Destino – Parque Aventurah em Brotas
Distância – 250 km de São Paulo, capital
Tempo de Viagem – Três horas da capital paulista, sem trânsito
Caminho – Rodovia Bandeirantes (SP-348), Rodovia Washington Luiz (SP-310) e Rodovia Eng. Paulo Nilo Romano (SP-225)
A saída da capital paulista se deu bem cedo, sob o olhar de uma lua minguante. O destino seria Brotas, o mais distante dentre os que foram visitados. Mais precisamente o Parque Aventurah, inaugurado em 2010 e que vem oferecendo atividades adaptadas para pessoas com deficiência. O desafio da vez era descer o rio Jacaré-Pepira. Pertencente à bacia do rio Tietê, tem 174 quilômetros de extensão. Mas o que interessava aos convidados dessa aventura eram os dez quilômetros de corredeiras e quedas, todos eles dentro do município de Brotas.
Augusto Sérgio Cruz de Toledo, 50 anos, paraplégico, o mesmo que comandou o paratrike em Caraguatatuba, agora iria experimentar uma nova sensação. “Nunca fiz rafting, estou bem ansioso, experiências novas são sempre bem-vindas”. Nascido em Itu, mas criado em Campinas e depois Indaiatuba, Augusto, que além de piloto de paratrike é advogado, teve contato com esportes de aventura desde sempre. “Meu pai era paraquedista, eu era bem pequeno e ele já me levava ao Campo dos Amarais, em Campinas, para vê-lo saltar.
Depois, com 16 anos, comecei minhas aventuras, motocross e paraquedismo foram as primeiras. O engraçado é que fazia tudo escondido de meu pai, que já tinha quebrado a perna duas vezes saltando e não queria o mesmo para o filho. Mas na época dele a coisa era mais complicada, hoje o paraquedismo evoluiu demais”. Ao fazer curso de asa-delta em Atibaia, viu pessoas saltando de parapente. Resolveu praticar a modalidade e, em 1993, fez seu primeiro voo solo. Foi pegando confiança, fez centenas de saltos até que, em 2003, sofreu acidente que o deixou paraplégico. “Uma das piores coisas que podem acontecer para quem pratica esportes radicais é o excesso de autoconfiança. Fiz um voo em que não respeitei as condições climáticas do momento, achei que sabia de tudo. Descobri que não”. Mas o acidente não o privou de mais aventuras. Após intensa e bem sucedida adaptação à nova realidade, começou a voar de paratrike e voltou a fazer paraglider, em 2008, com uma cadeira adaptada, que facilita sua aterrissagem. Porém, em Brotas o ambiente era outro, não mais o ar, mas sim a água.
O segundo aventureiro também é “expert” em emoções. Eduardo Tetamanti Jurado, 32 anos, ficou surdo com 8 meses de idade, devido a uma infecção que lesou seu nervo auditivo. Sua infância dividia-se entre partes boas e ruins. A boa era a prática de esportes, especialmente futebol, com amigos. A ruim era a barreira de comunicação com os ouvintes. Eduardo encontrou essa mesma dificuldade em escolas regulares, por isso frequentou escolas especiais. “Essas escolas me facilitaram muito, sim, por causa de domínio de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), mas também ensinavam português para acompanhar. Considero LIBRAS minha primeira língua, depois o português”, explica Eduardo. Formou-se em Design de Mídia Digital pela Faculdade Impacta Tecnologia. Sofreu no início com a falta de qualidade dos intérpretes de LIBRAS contratados pela instituição, mas no fim, graças a suas requisições, pôde terminar o curso de forma apropriada. Seu trabalho de conclusão de curso (TCC), chamado Deaf Travel Brazil, tirou a nota máxima. Trabalhou em bancos, fez fotografia, até que decidiu colocar em prática seu trabalho de TCC e fundou a Deaf Travel Brazil, agência de turismo voltada para surdos, fundada em 2012.
Eduardo tem vasto currículo em esportes de aventura. “A minha aventura radical sempre foi o paraquedismo, até hoje são mais de 25 saltos realizados. Já fiz mergulho em diversas localidades, rapel dentro de cavernas, fiz trilhas de bicicleta, passeio de balão gigante e rafting, em Juquitiba (SP)”. Todavia, agora o curso era outro e quem já fez rafting sabe que uma aventura nunca será igual a outra. Augusto e Eduardo foram recepcionados pela equipe do Aventurah. As instruções eram que, durante o trajeto, Augusto ficaria no chão do bote e não remaria, por motivos de segurança. Teria ainda ao alcance das mãos uma fita presa ao bote, para auxiliar no seu equilíbrio. Já para Eduardo a instrução era mais simples. Repetir os movimentos da pessoa da frente, essa foi a orientação. Para irem até o rio, foi utilizado um ônibus do Parque. A transferência de Augusto, tanto da terra para o ônibus, como da terra para o bote, foi feita de forma tranquila. Capacetes e salva-vidas colocados, uma repassada nos comandos que seriam usados na jornada e, então, tudo pronto!
O curso do rio é fantástico. Passagens tranquilas se revezam com quedas d’água que chegam ao nível IV. A mata exuberante do local permite a visualização de pássaros e animais selvagens, como tucanos e macacos. O sol teimava em brilhar, deixando tudo mais lindo. A cada queda d’água que se aproximava, a adrenalina corria solta. Os aventureiros revezavam-se entre risadas, apreensão e a sensação de conquista, de superação. Para quem estiver pensando em desfrutar dessa deliciosa aventura, prepare-se! As quedas d’água mais fortes estão reservadas para o final do trajeto.
Encharcados e felizes, Augusto e Eduardo comemoraram o fim da aventura e falaram de suas impressões, beirando a euforia. “Experimentei um ambiente que eu não estava acostumado, o visual é incrível. Pude me posicionar de forma confortável no bote e curtir esse belo pedaço de natureza. E o rafting ainda tem essa coisa da socialização, nos tornamos todos uma equipe”, comenta Augusto. Eduardo também adorou a experiência, mas fez algumas ressalvas. “A aventura de rafting em Brotas foi a mais radical que tive na vida. Mas fiquei um pouco inseguro, pois durante o trajeto não é possível comunicar-se utilizando as mãos, pois estamos nos segurando nos botes”. Porém, tirando esse detalhe, tudo foi maravilhoso, vou repetir com certeza. Essa combinação do rio com a mata é deslumbrante e o turismo de aventura só traz benefícios, quando praticado da forma correta”.
RECOMENDAÇÕES
Antes de qualquer coisa é necessário que se escolha uma empresa de rafting que tenha cadastro no Ministério do Turismo, que tenha a Norma de Segurança ABNT NBR-15.331 (Segurança no Turismo de Aventura) implementada e, ainda, condutores de rafting qualificados de acordo com a norma técnica ABNT-NBR-15370 (Competência de Pessoal – Condutores de Rafting). Não é permitida a prática da modalidade sem capacetes e coletes salva-vidas. Aconselha-se o uso de roupas confortáveis e impermeáveis durante a atividade porque, pode ter certeza, você vai se molhar! Caso não tenha, sem problemas, mas leve outra muda de roupa completa, porque a que você estiver usando ficará encharcada.
Procure comer em até uma hora antes do início da atividade. O rafting só não ocorre quando tempestades com raios se apresentam, ou ainda quando o rio está em condições extremas, seja de cheia, seja de seca. No Parque Aventurah, exige-se que o interessado em se divertir no rafting tenha, no mínimo, 1,20 metro de altura, independentemente de sua idade. A pessoa com deficiência física vai sentada no bote, segurando uma fita em seu interior, que permite maior equilíbrio e segurança. Ele não rema, apenas observa a natureza em volta e sente a adrenalina das quedas. Já quem tem deficiência auditiva é orientado a fazer tudo o que a pessoa da frente está fazendo. Pessoas com deficiência visual são orientadas o tempo todo pelo condutor, além de receberem descritivos do ambiente que está sendo explorado. Esforço físico moderado é exigido, já que você terá de remar junto com os outros tripulantes por praticamente todo o trajeto.
ATRAÇÕES DE BROTAS
O município é considerado a capital paulista da aventura. Sendo assim, além do rafting, você pode experimentar outras atividades como arvorismo, caminhadas, visitação de cachoeiras, canyoning (exploração do rio utilizando-se de outras técnicas que não o rafting), trilhas, ultraleve, quadriciclo, tirolesa e boia-cross. São inúmeros os locais e as empresas que oferecem esses serviços. Aqui recomendamos uma visita ao Parque Aventurah, que vem se preparando para receber pessoas com deficiência. Possui rampas de acesso e banheiros adaptados, porém neles o cadeirante não consegue fechar a porta do lavabo, perdendo assim sua privacidade. E o vestiário carece de uma bancada de alvenaria, ou algo similar, que ajudaria a pessoa com deficiência física na troca da roupa.
Além do rafting apresentado, são mais dezoito atrações complementares, todas muito divertidas. Segundo o pessoal do Parque, qualquer deficiência é contemplada, em todas as atividades. Avaliações são feitas por equipe experiente e apenas em casos extremos uma pessoa com deficiência ficará impossibilitada de usufruir de alguma atividade. Brotas está cercada de uma natureza exuberante. São inúmeras as cachoeiras de lá, com destaque para a Cachoeira do Saltão, a mais alta da região e a do Cassorova, que apresenta dois níveis de queda em um vale cercado de mata densa. Porém, infelizmente, o acesso a elas é difícil para pessoas com deficiência física, pois é preciso descer escadarias íngremes, com mais de 150 degraus. Outra atração muito famosa de Brotas é a “areia que canta”.
Depois de estacionar no Fazenda Hotel Areia que Canta, você segue com um guia até uma piscina natural cristalina, onde há flutuação (com saídas a cada hora). A areia do lugar, de grãos de quartzo, “assovia” quando esfregada, daí o nome. O passeio de três horas termina com um mergulho no Rio Tamanduá. No mesmo Fazenda Hotel é possível a observação de pássaros, são mais de 150 espécies que habitam o local e o passeio pode levar o dia todo, dependendo da vontade do cliente. Ainda no quesito “observação”, vale a pena uma ida ao Centro de Estudos do Universo (CEU). Após uma sessão no planetário, que dura 50 minutos, há visualização dos astros no telescópio, principalmente em junho e julho, que costumam ter céu limpo. Quando as nuvens atrapalham, você ganha o direito de visitar o CEU em outra data. Fora do binômio aventura/natureza, recomendamos uma visita ao Anand Ateliê, inaugurado em 2012, com especialidade em cerâmicas. Por fim, vá a Casa da Cachaça, onde Luciano Malagutti, o simpático proprietário, recomenda sempre a cachaça Rasteirinha, envelhecida em carvalho. E oferece ainda salame apimentado, queijo cremoso, café coado na hora e outras gostosuras para conquistar seus visitantes, além de doces caseiros, geleias, biscoitos e embutidos. Que delícia!
SERVIÇOS
Parque Aventurah – Site: http://www.aventurahbrotas.com.br/
Endereço: Rodovia Engenheiro Paulo Nilo Romano (SP 225), Km 143, Zona Rural, Brotas
Telefones: (14) 3653-4802 / (14) 99109-6267
E-mail: aventurah@aventurahbrotas.com.br
Fazenda Hotel Areia que Canta – Site: http://www.areiaquecanta.com.br/
Endereço: Rodovia Eng. Paulo Nilo Romano (SP 225), Km 124,5
Telefones: (14) 3653-1382 / (14) 3653-2465
Centro de Estudos do Universo – Site: http://www.fundacaoceu.org.br/
Endereço: R. Doutro Emílio Della Dea Filho, Km 3, Trevo de Brotas
Telefones: (14) 3653-4466 e (11) 3812-2112 (Reservas)
Anand Ateliê – Site: http://www.anandatelier.com/
Casa da Cachaça – Site: http://www.casadacachacabrotas.com.br/
HOSPEDAGEM
Brotas Eco Resort – Site: http://www.brotasecoresort.com.br/
Endereço: R. Emílio Dalla Dea Filho, S/N, Portão 3, a aproximadamente 13 quilômetros do Parque Aventurah.
Telefone: (14) 3653-9999
Possui passarelas asfaltadas e acesso por meio de rampas dentro do estabelecimento. Existem dois quartos adaptados, com banheiros maiores e barras de segurança. Possui ainda mais dez unidades (são 50 no total) com banheiros mais amplos, permitindo a locomoção do cadeirante.
Pousada Frangipani – Site: http://www.frangipani.com.br/
Endereço: Estrada Brotas BR 040, Km 8 – Patrimônio, a aproximadamente 25 quilômetros do Parque Aventurah.
Telefones: (14) 3653-4851 ou (14) 3654-3566
Possui uma suíte adaptada, no andar térreo, com banheiro completamente adaptado ao hóspede com deficiência física (barras de segurança, portas de correr, chuveiro, vaso sanitário e pia adaptados), além de uma área maior na própria suíte, proporcionando fácil mobilidade em seu interior.
COMO CHEGAR
De avião - O aeroporto mais próximo é o de Campinas, a 140 quilômetros.
De carro - Vindo de São Paulo, são 250 km. Acesso pela rodovia Bandeirantes (SP-348) até o entroncamento com a Washington Luiz (SP-310). Siga por ela até o trevo de Itirapina e entre à esquerda na Rodovia Eng. Paulo Nilo Romano (SP-225), que atravessa Brotas.
De ônibus - A empresa Expresso de Prata (http://www.expressodeprata.com.br) tem ônibus partindo da capital.